Quando pensamos ter alcançado aquele estádio da nossa vida em que (finalmente!), nos encontramos numa relação estável e saudável, por que raio tem de acontecer um pequeno pormenor em que voltamos a colocar tudo em causa? Por que raio os ciúmes têm um papel superior na relação do que a própria racionalidade? Será, belos bons tempos, por enfrentarmos todos os dias situações com as quais as gerações passadas não tinham de lidar?
Tenho uma amizade muito bonita com uma rapariga que conheci há já 14 anos... Sempre fomos muito extrovertidas e invadidas por uma sensação de pura juventude da qual nunca, nenhuma de nós, se tinha fartado. Pelo menos até agora. Acontece que quando me envolvi com o meu namorado (com quem estou há quase um ano), essa minha amiga -A-, começou também a namorar com um rapaz, um pouco mais velho, mas que não caprichava de nada - pensava eu. Ele é muito diferente dela, sem dúvida: alto, loiro e de olhos claros (azuis ou verdes). Ela é muito morena, traços asiáticos (embora não tenha antecedentes asiáticos na família e não seja, de todo, adoptada), cara bastante redonda e cabelo escuro. Ele tem uma visão muito à direita da realidade e ela desliga-se sempre da política. Ele adora um bom copo de vinho e ela é a que leva o carro.
Seja como for, no aniversário da minha irmã mais velha, falei com a A para ela vir beber um copo connosco até a praia. Fiquei surpreendida quando ela me disse que o namorado estava a passar uma temporada na casa dela e que dali a poucos dias partiriam os dois para o Algarve, confirmando-me, independentemente do resto, que apareceria mas com ele. Pensei não existir grande problema, apesar de sermos sete raparigas, a maior parte solteiras à procura de "good fun". No instante em que chegaram, arrependi-me logo de ter aceitado tal ideia absurda. Talvez tivessem discutido antes, chegaram e sentaram-se noutra mesa e só mais tarde é que se sentaram connosco. Não quis armar uma cena, pois estávamos lá para festejar. Mais tarde, as raparigas queriam ir para uma discoteca e o namorado da minha amiga armou uma cena, pois não queria ir e ela não iria sem ele. Quando perdi as estribeiras, ripostei de uma forma desagradável -algo que não devia ter feito- e foi "o fim da macacada." A noite acabou, minutos depois, com o casal a ir embora para casa e eu e as restantes embarcamos na direcção do vinho branco e de um sofá confortável.
A partir dessa noite, as coisas mudaram radicalmente com a minha mais antiga melhor amiga.
«- Vamos beber um copo? »
«- Não posso... Ele está cá em casa e seria chato deixá-lo sozinho...»
«-Queres ir a praia?»
«-Já combinei com ele. Desculpa. Talvez amanhã ou assim.»
«-Estou a precisar de café. Queres ir até a rua?»
«-Hum... Tenho de ver. Eu já te ligo.»
Este pesadelo foi o meu pesadelo durante os últimos dez dias.
Ontem tínhamos combinado ir esta noite até um bar muito giro que costumávamos frequentar quando erámos solteiras. Tudo indicava que íamos quando ela me diz que "não dá jeito" porque ele estava lá em casa e ia lá dormir.
«-Hum... Está bem. E não dá para ele ir ter com os amigos dele ou assim?»
«-Pois... Tenho de ver. Depois de jantar digo-te alguma coisa.»
E disse, de facto. Ela queria estar comigo mas para isso, ele iria ficar incomodado por ser deixado sozinho na casa dela. E para ficarem os dois, eu iria ficar chateada e ela não sabia o que fazer ou dizer. Preferi o termo irritada uma vez que o meu contra-argumento foi o facto de eles irem passar uma semana no Algarve juntos, sem mais ninguém. Como achei que um de nós tinha de ser mais maduro que o outro, adiantei-me e disse-lhe que não haveria problema mas que estava farta de ouvir o nome dele e o pronome pessoal "ele" e que era capaz de arranjar um programinha para mim e para o meu namorado, para evitar discussões.
Como acabou a minha noite? Sem nenhum dos dois porque o meu precioso não conseguiu encontrar-se comigo durante a tarde, pensando que não faria mal pois estaríamos juntos a noite e sem a minha amiga, que ficou em casa com o namorado a ver um filme barato que passa nos canais habituais.
Quanto ao "programinha" que tinha pensado em fazer com o meu, também esse saiu furado porque ele "não é segunda opção". Então, o que privilegiar, afinal? As amigas ou os namorados?
Pensando melhor, até nem foi assim tão mau porque estou a ter o meu tempo, a fazer as minhas coisas, na companhia de um copo de vinho verde e uns cigarros, na minha sala.
O que me chateia é que não tive a oportunidade de estar nem com a minha amiga nem com o meu namorado porque "pus um à frente do outro", quando ela pôs o seu namorado à minha frente...
Portanto... O que escolher? As amigas ou os namorados?
Crónicas
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Escrever Na Madrugada
O dia do meu regresso a casa foi o dia em que a escrita tomou conta de mim... Uma felicidade familiar invadiu-me e eu adorei sentir-me assim, apesar de ter algum ressentimento por não ter aproveitado melhor as minhas férias.
Foi, para além disso, o dia em que decidi, após uma reflexão cuidada, transmitir a minha experiência dos últimos seis dias.
O primeiro impacto foi, como sempre será, o mais forte. E no meu caso, foi o pior.
Uma sensação de estranheza apoderou-se de mim quando cheguei à casa de férias da família do meu namorado e senti-me como que presa a uma nova realidade que eu não conhecia nem queria conhecer. Senti-me realmente assustada.
Apesar de ser quase matemática o que um homem e uma mulher sentem, «valerá sempre a pena?». Esta, entre tantas outras perguntas afundavam-me na almofada alta e rija, onde cheguei a chorar baixinho para não ser descoberta, logo na primeira noite.
Como considero característico da mulher moderna, senti um certo desequilíbrio, com infindáveis dúvidas acerca do meu futuro com o meu namorado e a sua família: senti-me como se namorasse não só com ele, mas sim com todos os seus parentes.
Como nunca estive habituada a um enorme conforto entre a “namorada do filho”, a “namorada do neto”, a “namorada do sobrinho”, a “namorada do primo” e a “família toda”, achei que seria fácil para mim não revelar todo o meu mau feitio e desagrado de uma só vez, fazendo-o sim, mediante medidas extremas em que não aguentaria mais um ambiente familiar tao confortável e feliz.
Mas acho que o feitiço se virou contra o feiticeiro, pois o ambiente familiar em que automaticamente fiquei inserida deixou-me perturbadoramente feliz. Agora que penso nisso e fazendo alusão a minha família paterna, consigo perceber o porquê de ter ficado assim. Afinal de contas, a ligação que o meu “mais-que-tudo-com-alguns-se-nãos” tem com o pai e a avó, a tia e os primos é algo extraordinário que eu nunca tive e já não vou a tempo de ter.
Seja como for, acho que mesmo por não estar habituada a este companheirismo é que acabei por me divertir tanto. Senti-me em casa com pessoas que não têm de olhar por mim mas que, por um mero acaso, são parte da família do meu recente namorado.
E agora que experienciei o que é ter mais que uma casa e mais que uma família que se preocupa e olha por nós, acho que “namorar” com a família dele de vez em quando, não tem qualquer mal.
M
15-Julho-2013
(madrugada)
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